quinta-feira, 22 de março de 2018

A CRIAÇÃO DO MUSEU GOELDI E A PARTICIPAÇÃO DA PM: MAJOR PM BAENA DOANDO ARTEFATOS E OBJETOS DO COMBATE DE CACOALINHO

A história nos reserva surpresas quando começamos a nos aventurar e ir atrás de fatos e relatos que possam lançar luzes sobre a história da corporação. No último dia 15/03/2018, após participar na Catedral da Sé da belíssima missa em comemoração aos duzentos anos da PMPA fui ao Centur ler algumas coisas do passado.
Pude encontrar, entre os recortes de jornais um relato interessante da lavra de Ernesto Cruz, datado de 1967 que apresentava a história do Museu Emílio Goeldi quando de sua formação, o que me chamou atenção pelo fato de o Major Antônio Nicolau Monteiro Baena, o qual foi Comandante-Geral da PM em 1876 estar entre os doadores de artefatos, vinte e oito ao todo, para formar o acervo do Museu. Assim como a existência, no Museu, já sob a administração de Emílio Goeldi de seis armas apreendidas com os revoltosos no combate de Cacoalinho, episódio esquecido pela historiografia, mas que tinha entre os amotinados Veiga Cabral, que após preso e deportado para o Amapá, acabou por tornar-se herói do contestado.
Tudo isso corrobora com o slogan adotado pela PM para as comemorações do seu bicentenário.
"Polícia Militar do Pará: patrimônio da sociedade paraense."  Passemos à transcrição:

BIBLIOTECA DO PARÁ
SEÇÃO DE OBRAS DO PARÁ
VEÍCULO: FOLHA DO NORTE
COLUNA; 3
PÁG: sem registro
CADERNO: sem registro
LOCAL: BELÉM
DATA: 11/08/1967
MANCHETE: FATOS E CURIOSIDADES DA HISTÓRIA DO PARÁ CCXXX 
457 - O MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI
AUTOR: ERNESTO CRUZ

     No sábado 25 de Março de 1871, aniversário do juramento da Constituição política do Império, foi instalado no edifício do "LICEU PARAENSE", pelo Presidente da Província Joaquim Pires Machado Portela, o MUSEU ETNOGRÁFICO E DE HISTÓRIA NATURAL. Aos visitantes foi mostrado um rico mostrador de 8 a 10 metros de comprimento, todo envidraçado correndo em cima e pelo meio uma linha de vitrinas. O "DIÁRIO DO GRÃO-PARÁ" na sua edição do dia 28, publicou amplo noticiário sobre as instalações do Museu. Esclarecia que em cima das lâminas de vidro estavam dispostos muitos objetos. Cada um dos repartimentos daquele mostrador estava ornado de grandes variedades de artigos entre os quais alguns curiosos que atraiam a atenção do visitante. Capacetes e outros ornatos de penas ocupavam três vidraças; um ídolo, um busto de argila, um aparelho curioso de tomar paricá, machadinhas de pedras e alguns outros artigos, todos pertencentes a tribos indígenas, ocupavam outras duas lâminas.
     Do lado da parede achava-se um bela coleção de minerais oferecida pela Repartição de Obras Públicas. No repartimento imediato estavam diversas amostras de cristais do Rio Branco e do Tapajós, de pedras deste último rio, do Pacajás etc., conchas, fósseis e um osso também fóssil do mesmo rio Tapajós. Esta mistura de artigos informava o jornal - não agradou. 
     Entre as conchas fósseis figuravam duas que alguns minutos antes foram oferecidas ao Museu pelo Bispo diocesano, que era um distinto cultor das ciências naturais. Esse presente foi acompanhado de uma nota escrita em Roma, de onde o trouxera o ilustre antistite. Dizia: "AMMONNITI ESISTENTI NEISTRATI CALCAREI DEL MONTE SUBASIO DE ASISI".
     O presente desses dois moluscos de que não existe hoje um indivíduo vivo era um dos mais preciosos objetos com que o Museu NASCENTE AQUELA DATA abria as suas portas ao estudo da ciência da natureza.
     Nas vitrinas encontrava-se uma pequena mas bonita coleção de serpentes conservadas em álcool, oferecida ao Museu pelo dr. A. J. Gomes do Amaral. Outros muitos objetos interessantes enriqueciam a coleção do Museu, entre os quais aqueles oferecidos pelo Major Antônio Nicolau Monteiro Baena, que concorreu com 28 artigos diversos.
     Assim estavam montadas as coleções do Museu no dia da sua INAUGURAÇÃO. A lei nº 713 de 12 de Abril de 1872 aprovou a criação do Museu de História Natural, estabeleceu o número de funcionários e marcou a quantia anual de DEZ contos de réis para a despesa do estabelecimento.
     No Relatório apresentado à Assembleia Legislativa pelo Presidente da Província dr. Pedro Vicente de Azevedo, em 15 de Fevereiro de 1874, constam referências SOBRE O MUSEU, que estaria atravessando fase pouco lisonjeira. O dr. Corrêa de Freitas encarregado de dirigir e inspecionar o serviço da nova repartição provincial enviou ao governo informações que traduziam as dificuldades por que passava a nova instituição. Dizia ele:
     "...si a província não pode custear o Museu com quantia superior a com que atualmente o custeia, então melhor pe VENDER-SE em ARRECADAÇÃO o que lá existe, despedir o preparador e o porteiro e FECHAR-LHES as portas; com que se lucrará a quantia de 2:160$000 reis mas isso SERÁ UMA VERGONHA PARA A PROVÍNCIA..."
     Prosseguia:
     "...si os poderes competentes não auxiliarem o Museu com a quantia que indiquei CINCO CONTOS DE REIS ou com maior, êste estabelecimento será no curso dos anos ou dos séculos, o mesmo que é hoje, isto é um Museu em miniatura". 
     O dr. Pedro Vicente de Azevedo atribuía à lei nº 713, que transformou o Museu de origem (sic) TEJO DOS EMPENHOS". O remédio para a situação difícil em que se achava o estabelecimento científico era, na opinião do Presidente da Província este:
     "Restituir ao Museu o seu antigo caráter de INSTITUIÇÃO PARTICULAR; protegê-lo forte e eficazmente por meio de dotações anuais suficientes. conservar a organização que lhe deu o ilustre Presidente dr. Portela em 1871 ampliando mesmo as faculdades e garantias estabelecidas nessa organização; e sujeitando somente as despesas do estabelecimento à uma rigorosa fiscalização por parte do governo; ou por sua ordem, do Tesouro provincial, quanto às somas votadas e a aplicação regular que tiverem; tais, me parece, são os meios de fazer renascer e prosperar o Museu Paraense hoje quase extinto e esquecido".
     Cinco anos decorridos, em 1879, o dr. José Coelho da Gama e Abreu escrevia no seu Relatório à Assembleia Legislativa provincial, estes comentários:
     "O Museu continua a viver uma vida acanhada    
     

sexta-feira, 16 de março de 2018

PARTE XI
DENUNCIADOS OS RESPONSAVES PELO DESAPPARECIMENTO DOS TROPHÉOS DA BRIGADA. (escrita da época)


    O 2.º promotor publico offereceu hontem, denuncia contra Marcolino Rothilde de Carvalho, ex-thesoureiro da Policia Civil, e Orlando de Mattos Guerra, como responsaveis pelo dessapparecimento dos trophéos da antiga Brigada Militar do Estado, caso que a imprensa tem noticiado mimuciosamente.
    Acham-se incursos, o 1.º nos penas do artigo 221, lettra B, e o 2.º nas do artigo 223, tudo da Consolidadção das Leis Penaes.
    Entretanto os inqueritos policiaes e o relatorio dos mesmos concluem não só pela responsabilidade dos denunciados, como pela do dr. Eduardo Chermont, ex-chefe de Policia, que havia conduzido do então quartel-general da extincta F. P. os trophéos para a sua repartição. (escrita da época)

Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 02 de 16 DEZ 1936 – Biblioteca Artur Vianna.

terça-feira, 13 de março de 2018

Parte X
Os Trophéos da Brigada e os responsaveis pela sua dispersão. (escrita da época)

    Vale a pena destacar o trecho do relatorio do dr. Salvador Borborema a proposito dos trophéos da Brigada Policial, em que o 3º delegado determina a responsabilidade dos individuos envolvidos na occorrencia.
  A reproducção justifica-se porque sendo aquelle documento de grande extensão, nem todos o puderam lêr.
  O trecho em questão é este: Deste modo a responsabilidade dos acusados pelo extravio dos objectos preciosos da antiga Força Publica, Marcolino Rothilde de Carvalho, dr. Eduardo Chermont e Orlando de Mattos Guerra, está patente dos autos, por terem elles incidido na sancção dos arts. 221, lettra B, o primeiro: art. 22, paragrapho unico, lettra A, o segundo, e, finalmente, o ultimo no art. 223, tudo da Consolidação das Leis Penaes.
  A avaliação dos objectos extraviados foi determinada pelas testemunhas da ausencia dos mesmos.
   Taes objectos estão perfeitamentes determinados, assim como o valor delles, todos de ouro, contendo pedras preciosas.
   As testemunhas Sebastião de Castro e Sila, Marcolino Lins de Aguiar, José Albino de Menezes, Napoleão Jansen de Sá Meirelles e desembargador Jorge Hurley e outras, affirmam que o valor de taes joias attinge a centenas de contos de réis. (escrita da época)

            Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 01 de 17 NOV 1936 – Biblioteca Artur Vianna.

domingo, 11 de março de 2018

PARTE IX
Ainda os trophéos da Força Publica O accusado da venda escapou á prisão pela porta do “habeas-corpos”. (escrita da época)

  Annunciou a imprensa que vinha ahi Marcolino Carvalho, ex-thesoureiro da Policia na administração Eduardo Chermont, preso na Parayba, á requisilção da Policia deste Estado.

   Como se não ignora, Carvalho é accusado de ter vendido os trophéos da Força Policial, locupletendo-se com o dinheiro.

    A sua presença aqui teria o effeito de pôr luz na muita escuridade ainda reinante no assumpto; mas uma ordem de “habeas-corpus”, impetrada ao juiz federal da Parayba restituiu-o á liberdade, permittindo-lhe lá ficar, sob o fundamento de que a requisição regular devera ter sido feita pelo governador e não pela Policia.

    É lastimavel que esse contratempo deixe por averiguar em todos os seus detalhes um facto que interessa a uma corporação inteira, privada criminosamente da posse de objectos que eram seu patrimonio de honra.

  Parece que a prisão pedida por via competente ainda podia ser requisitada, se Carvalho já não emprestou a perna da cotia para se pôr a salvo da cadeia.

   A verdade é que emquanto elle não for ouvido, ficam por ser conhecidos e punidos os seus cumplices, que, de certo, os teve. (escrita da época)



Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 2 de 13 JUL 1936 – Biblioteca Artur Vianna.

sexta-feira, 9 de março de 2018

PARTE VIII

Os Trophéos da Brigada Policial. (escrita da época)

     A bordo do “Manaus”, a chegar a 10 do corrente, vem preso da Parahyba do Norte, Marcolino de Carvalho, auctor da venda dos trophéos da Brigada Policial,em proveito proprio, segundo apurou a policia.
  Marcolino Carvalho, que era empregado da empresa das Aguas Maguary, passou a thesoureiro da Policia na administração Cesar Coutinho, mas commetteu o seu “fortait” na administração Eduardo Chermont.
    Ouvimos que, logo que passa ser ouvido pela justiça, fará a esta declarações importantes, com referencia á posse e venda dos ditos objectos, declarando quem fôram os conniventes. (escrita da época)

Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 01 de 08 JUN 1936 – Biblioteca Artur Vianna.

quinta-feira, 8 de março de 2018

PARTE VII
Os Trophéos da antiga Brigada Militar do Estado. (escrita da época)

    Prossegue na 3.ª delegacia auxiliar o inquerito para apurar a responsabilidade do desaparecimento dos trophéos pertencentes á antiga Brigada Militar do Estado, estando o dr. Salvador Borborema, conforme noticiamos hontem, na pista segura dos responsaveis. 

    Parecendo certa a culpabilidade do ex-thesoureiro da Policia, de nome Marcolino Rothildes de Carvalho, ora residindo em Fortaleza, achamos que o dr. Borborema deve pedir o quanto antes á Policia do Ceará a remessa de Marcolino, para cá, uma vez que sua familia, aqui residindo, pode muito bem informal-o do inquerito a que se vem procedendo, dando ensejo a que elle desapareça de Fortaleza.

    Em seguimento ao inquerito actual, o dr. chefe de Policia bem poderia mandar verificar, também, o fim que levou a bandeira brasileira confeccionada com a mais oura sêda e bordada a ouro, offerecida á Brigada pelas senhoras bahianas, assim como o desaparecimento da grande quantidade de louça, aliás, fina, pertencente á milicia, e tambem desapparecida logo após a victoria da revolução de 1930. (escrita da época)

 Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 01 de 01 MAR 1936 – Biblioteca Artur Vianna

quarta-feira, 7 de março de 2018

PARTE VI
Os Trophéos da Antiga Brigada Militar do Estado. (escrita da época)


     Conforme temos noticiado, vae em bom caminho o inquerito instaurado na 3ª delegacia auxiliar para apurar a quem cabe a responsabilidade do desapparecimento dos ricos trophéos da antiga Brigada Militar do Estado.
     Hontem, um de nossos companheiros teve a opportunidade de conversar alguns minutos com um brioso official da Força Publica, que, lhe affirmou ter presenciado o sr. Eduardo Chermont retirar, em companhia do fallecido aspirante Lima, nessa occasião seu ajudante de ordens, todas as reliquias da Brigada Militar da estante em que se encontravam, mettendo-as no bolso de fora do paletot do lado direito.
     Assegurou-nos esse official que o sr. Eduardo, na impossibilidade de conseguir as chaves da vitrine, e não querendo ir ao cumulo da violencia de quebral-a, mandou buscar um serralheiro para abril-a.
     Aberta a vitrine e vendo os officiaes presentes o então chefe de Policia collocar as medalhas e cartões de ouro no bolso do paletot, indagou um delles porque esses objectos não iam para o Instituto Historico, tendo o sr. Eduardo respondido que nos cofres da Central de Policia estariam bem guardados.
     Quanto alouca pertencente á milicia, accrescentou-nos o official, sómente o capitão Arouck, commandante da Guarda Civil, poderá dizer alguma cousa, pois toda ella foi conduzida para o antigo B. I., onde ainda deverá estar. (escrita da época)

Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 01 de 03 MAR 1936 – Biblioteca Artur Vianna.

terça-feira, 6 de março de 2018

DESCRIÇÃO DO QUARTEL DA CAVALARIA NO INÍCIO DO SÉCULO XX

Quartel do Corpo de Cavalaria Estadual. Fonte: Álbum de Belém, 1902
          A Cavalaria da Polícia Militar, atualmente denominada de Regimento de Polícia Montada, já teve como sede de seu aquartelamento a edificação onde, atualmente, funciona o Hospital Geral do Exército, em frente a praça Brasil.
            Ao lado a imagem da frente do quartel com a tropa de cavalaria em dia de formatura. Abaixo, trazemos a descrição do quartel da Cavalaria da Polícia Militar, em 1902.




Quartel do Iº de cavalaria
Em epoca não mui remota, marcada pelo decurso estreito de seis anos, quem passava por S. João do Brum deparava, á curta distancia da estrada, um vasto casarão campestre, ladeado de alpendres e ensombrado no seu rude pórtico por uma velha mangueira, onde as aves gorgeiavam pelos mormaços do dia.
Uma cerca rija de madeira delimitava o pátio da fazenda; e na porteira tosca, por onde o gado recolhia ao cahir melancolico da tarde, uma mangueira e um angelim farfalhavam, erguidos na planície como duas sentinelas que velassem dia e noite pela paz e pelo socego d’aquella estancia feliz.
Era essa a morada de um fazendeiro abastado, e isso ainda hoje se vê pelos campos circunstantes que foram seus, pelo número de aposentos que o seu povo habitou e pela vastidão relativa da capella, edificada no seio do seu lar, com a sua fachada mais alta que os tectos da vivenda, e como que significando sobre as cousas do mundo e proeminência consoladora da fé.
É nesse outrora agitado e feliz tecto rural, que hoje se encontra o quartel de Iº regimento de cavallaria.
Imagem da capa do Álbum de Belém, 1902
A cidade com as suas exigencias estendeu-se até ali; e quando ao envez de castanheiros sylvestres só casas se erguiam nas duas margens do caminho, os numerosos vedetas da ordem publica, que já não cabiam no seu quartel insufficiente, vieram-se alojar no casarão da fazenda, annullando para sempre o aspecto bucolico dessa evocativa paragem.
Foi a velha cerca de pau-a-pique quem primeiro sofreu a devastação do progresso. Hoje um muro alvadio circunda todo o terreiro, outr’ora plantado de hortas e vagueando rezes.
A capela de nichos vasios está cheia de prateleiras, que suportam o peso dos fardamentos, das espadas, dos mosquetões e de toda essa imensidade de cousas que abastecerem a arrecadação de um quartel.
Os salões fronteiros do flanco direito foram aproveitados como secretaria, gabinete do commandante, sala de ordem e sala do Major fiscal do corpo.
Nos alpendres interiores, que abrem para uma área quadrangular, installou-sse um museu d’armas. Ao fundo do primeiro alpendre que limita os salões fronteiros, num compartimento alegre que recebe a luz esbatida pelos beiraes, vieram habitar os livros, unidos em biblioteca, num alinho erudito e grave que convida a meditar e pensar. No salão central do flanco posterior fica o refeitorio das praças. Nos compartimentos anexos os xadrezes para prisões disciplinares.
Num curioso constraste, encontram-se ao fundo do quartel a machina para produção de luz electrica e o hospital onde se recolhem os soldados, que as doenças e os acidentes proprios da arma a que pertencem incapacitam para o serviço.
As oficinas regimentaes agrupam-se perto, numa expansão effervecente de trabalho, cujo rumos sacrílego quebra o silencio desolado do hospital, onde os doentes são raros.
Da viva alegria campestre que outrora reinava na pitoresca fazenda, já nada resta, alem das tres arvores esgalhadas que se conservam fieis , cobrindo com os seus ramos a terra úbere que as gerou. Apenas evoca-se a historia rural desse casarão transformado em quartel, quando algum potro relincha na sua manjadoura estreita e simetrica, alinhada com outras com muros lateraes do pateo fronteiro, onde se estende o renque das baias sob um telheiro sombrio.

(Transcrição do Álbum de Belém, 15 de novembro de 1902, páginas 33-34).

          Atualmente o Regimento de Polícia Montada "Cassulo de Mello" comemora o seu aniversário em 17 de fevereiro, pois em 1994, por Portaria do Comandante Geral, Cel PM Cleto José Bastos da Fonseca, foi criado o RPMont, mas há notícia de criação do Esquadrão de Cavalaria em 1817, a 12 de outubro e, também, em 1838, como já apresentamos em notícias anteriores feitas pelo nosso colaborador, Cel PM Lázaro Saraiva de Brito Júnior.
PARTE V
Os Trophéos da Brigada Militar: NÃO CHEGOU A HAVER INQUERITO NO TEMPO DO SR. JOAQUIM BARATA – PRESTES A SER CONCLUIDO O INQUERITO POLICIAL – PRISÃO PREVENTIVA CONTRA UM EX-THESOUREIRO DA POLICIA? (escrita da época)

     Tendo sido propalada a noticia de que ao tempo do Juizo da Corregedoria das Comarcas houvera um inquerito para apurar o paradeiro dos trophéos e joias pertencentes á Brigada Militar do Estado, a FOLHA procurou colher informações a respeito, chegando á conclusão de que não foi instaurado o inquerito referido.
     O que se passou com relação ao assumpto, não passou de providencias preliminares no sentido de serem os ditos objectos entregues ao Instituto Historico.
   Assim, o capitão Napoleão Jansen de Sá Meirelles, commandante da extinta Companhia de Estabelecimento, em 5 de junho de 1934, officiou ao sr. interventor Joaquim Barata, propondo que fossem entregue á guarda do Instituto Historico e Geographico do Pará, os trophéos e joias de ouro e brilhantes, pertencentes a Brigada Militar, declarando nesse officio, que tem o numero 544, que melhor seria estarem no Instituto, á disposição do publico, do que “guardados a sete chaves numa burra”.
     Ainda no mesmo officio, informou o capitão Meirelles, actual major do B. C. da Força Publica, que constava estarem as joias e trophéos depositados na Secretaria da Fazenda, então confiada á direcção do dr. Clementino Lisbôa.
   O major Joaquim Barata, de posse desse officio, enviou-o ao procurador geral do Estado, desembargador Jorge Hurley, com o despacho mais ou menos assim:
     “De accôrdo. Ao dr. Hurley, para em meu nome, dar as providencias necessárias a satisfazer esta suggestão”.
     De posse desse officio, o procurador geral, que tambem era e é ainda o presidente do Instituto Historico, enviou ao commandante da Companhia de Estabelecimento o seguinte officio:
     “Em 30 de junho de 1934. – Illmo. Sr. capitão commandante da Companhia de Estabelecimento Militar do Estado – A fim de dar cumprimento ao despacho de s. exc. o sr. major interventor, contido no officio n. 514, de 3 de junho do anno corrente, solicito a v.s. a fineza de fornecer-me dados e seguras informações, atraves dos documentos a respeito das joias, medalhas, bandeiras, estatuetas, batutas, passadores e mais artigos pertencentes á Força Publica do Estado, a fim de serem relacionados e incorporados ao patrimonio do Instituto Historico e Geographico do Pará, conforme proposta de v. s. aceita por s. exc. o sr. major interventor. Saudações. – (a) Jorge Harley, procurador geral do Estado.
     Tambem o desembargador Hurley, ouviu o coronel Alberto de Mesquita, que lhe officiou apoiando a ideia do capitão Meirelles e dizendo que, quando entregou o commando da Brigada, ao tempo da revolução triunphar, deixou as joias e trophéos na sala do commando geral, onde sempre estiveram trancados em vitrine.
    Volveu o capitão Meirelles a officiar a Procuradoria Geral, dizendo que no cofre daquella Companhia existiam apenas tres batutas de ebano, com inscrustações de prata, alguns passadores de ouro destinados a officiaes, passadores de cobre e prata, e que os outros objectos de maior valor consta do mappa carga, onde deveriam estar relacionados os seus destinos.
Essa resposta chegou á Procuradoria dois dias antes do desembargador Hurley deixar o cargo de procurador geral, em virtude do impedimento constitucional.
     Á vista do exposto, o desembargador Harley entendeu-se pessoalmente com o sr. Barata, fazendo-lhe crér que o Instituto Historico, não tendo sede para guardar os trophéos e joias de ouro e pedras preciosas de alto valor, seria melhor deixal-os onde estavam trancados, “numa burra a sete chaves” na Secretaria da Fazenda, segundo a relato do actual major Meirelles.
Esse alvitre foi acceito pelo sr. Barata e ficaram os referidos officios no arquivo da Procuradoria Geral, onde actualmente se acham.
     Não houve portanto inquerito propriamente dito na extincta Corregedoria, a respeito de taes joias e trophéos como, por equivoco informara á Policia um official que alli depoz.
     Essas informações, segundo ouvimos, foram prestadas ao sr. chefe de Policia, que teria officiado ao desembargador Jorge Harley sobre os factos ora relatados.
     O inquerito policial está em vias de conclusão.
    Segundo colheu a nossa reportagem, o inquerito policial a cargo do dr. Salvador Borborema, 3.° delegado auxiliar, está em fase de conclusão.
     Para isso faltam apenas algumas providencias, que estão sendo tomadas, devendo o inquerito ficar concluído dentro do previsto da Prissão preventiva para um ex-thesoureiro da Policia?
   Como foi noticiado falamos que o ex-thesoureiro da Policia, sr. Marcolino Carvalho, está envolvido nesse remoroso caso.
   Constatou á nossa reportagem que o referido ex-funcionario, deverá chegar a esta capital num dos proximos navios esperados do sul, em virtude de prissão preventiva requerida pela policia desta capital á do Ceará, onde se diz encontrar-se Marcolino Carvalho. (escrita da época)

Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 01 de 10 MAR 1936 – Biblioteca Artur Vianna

segunda-feira, 5 de março de 2018

Parte IV
OS TROPHÉOS DA BRIGADA MILITAR DO ESTADO: VANDALICAMENTE REDUZIDOS A BARRAS, E VENDIDOS AO PREÇO MISERAVEL DE 2:000$000, FOI A SORTE QUE TIVERAM OS GLORIOSOS TROPHÉOS QUE PERPETUAVAM A BRAVURA DO SOLDADO PARAENSE. (escrita da época)


     Vae, para o seu termo o processo instaurado na policia para apurar quaes os responsáveis pelo desvio dos trophéos da antiga Brigada Militar do Estado.
     É uma das grandes vergonheiras realizadas sob o auspicios do governo terremoto, que bateu o “record” em proclamar lisuras na sua administração...
     No entanto, o tempo se encarregou de trazer a lume as irregularidades que se passavam nos bastidores daquella época, desvendando aos olhos do povo ludibriado o quanto eram falsas as attitudes emphaticas e as parolagens do dynamico desorganizador do nosso Estado.
     A Providencia Divina, porem, quis que, mais cedo do que se esperava, terminasse aquelle periodo de arrocho imposto ao Pará pelo maior despota que esta terra já conheceu.
     E eis que, uma vez alijado do governo o Sr. Joaquim Barata, constitucionalizado o Estado, moralizada a administração, começam a surgir os escandalos occoridos na sua interventoria.
     Hontem, o caso dos automoveis do Matadouro Maguary, vendidos clandestinamente a incautos commerciantes; hoje, o dos trophéos da Brigada Militar do Estado, reliquias de inestimavel valor, conquistadas com heroismo na batalha de Canudos.
     Como é sabido, o dr. Eduardo Chermont, ex-chefe de Policia, em officio dirigido ao dr. Mario Chermont, então secretario da Instrucção e Saude Publica, declara ter remettido os trophéos ao secretario da Fazenda, sob cuja guarda ficaram, no entanto, contradizendo-se agora, disse no inquerito instaurado na policia, que os referidos valores estiveram depositados na thesouraria da policia, “não tendo a menor lembrança de os haver entregue a qualquer outra repartição”...
     Ante essa extranha declaração, o dr. Salvador Borborema, 3.º delegado auxiliar, que presidiu ao inquerito, requereu ao juiz da 5ª vara a prisão preventiva do ex-thesoureiro daquella repartição, Marcolino Rothilde de Carvalho.
     Acompanhando o officio em que requisita aquella providencia judicial, o dr. Salvador Borborema, fez annexar copias authenticadas dos depoimentos já prestados no inquerito respectivo.
     O 3º delegado assim começa o seu officio de requisição da prisão preventiva:
Usando da faculdade que me conferem o art. 50 do decreto estadual, n. 1352, de 21 de janeiro de 1905, e art. 64, n. 28, do decreto estadual n. 3516, de 26 de março de 1919 (regulamento do Serviço Policial), - venho requisitar a v. exc. A prisão preventiva de Marcolino Rothilde de Carvalho, cidadão brasileiro, casado, de profissão e residencia ignoradas, providencia que se faz necessaria seja decretada no interesse da Justiça, como passo a demonstrar a v. exc., com a devida “venia”. Está instaurado nesta Delegacia Auxiliar, de ordem do exmo. Sr. Dr. Chefe de policia, inquerito para apurar responsabilidades pelo extravio dos objectos preciosos pertencentes ao patrimônio da antiga Força Publica Militar do Estado.
     Neste inquerito já colhi provas de que taes objectos, apos a extincção daquella Força, por acto de 22 de novembro de 1930, foram entregues ao dr. Eduardo Chermont, então chefe de policia; pelo dr. Mario Chermont, nomeado, naquella época, para exercer as funcções de secretario da Instrucção e Saude Publica, na sala onde se encontravam ditos objectos, estando presentes varios officiaes da referida Força, os quaes já depuzeram no mencionado inquerito, affirmando o facto.
     Do archivo da secretaria da Policia Civil, consta o seguinte officio que foi endereçado ao dr. Mario Chermont, pelo dr. Eduardo Chermont, sobre a entrega e recebimento dos citados objectos:
     “Belem, 23 de dezembro de 1930. Officio n. 689. Illmo. Sr. dr. Secretario da Instrucção e Saude Publica. Declaro, pelo presente, que recebi das mãos de v. s. o seguinte: tres grinaldas de ouro, tendo ao centro uma estrella; uma dita, tendo ao centro um escudo; uma medalha do mesmo metal, apposto num laço com faixa; dois cartões de ouro, com brilhante maior e tres menores; um dito do mesmo metal, com um brilhante maior e seis pequenos. Esses objectos, que estavam no commando geral, foram com officio, enviados ao dr. secretario da Fazenda do Estado, sob cuja guarda ficarão.
     Cordiaes saudações. – Eduardo Chermont.
     Chefe de Policia”.
    Essas joias são as mesmas descriptas ás fls. 122 e 123, do Almanack da Brigada Militar do Estado, do anno de 1911, e foram avaliadas, em 1910, em Rs. 90:000$000. e hoje, em centenas de contos de réis e de valor historico inestimavel, pois representam trophéos da campanha de Canudos, na qual a antiga Brigada Militar do Estado conquistou grande destaque pelos seus feitos heroicos e gloriosos.
     Em vez de serem remettidos esses mimos á Secretaria da Fazenda Publica, foram elles entregues ou confiados á guarda do então thesoureiro da Policia Civil, Marcolino Rothilde de Carvalho, como confessa o dr. Eduardo Chermont, em seu depoimento:
     “...que recorda-se perfeitamente que essas joias estiveram depositadas no cofre da thesouraria desta chefia, não tendo a menor lembrança de as ter entregue a qualquer outra repartição...”
     Em junho de 1931, Marcolino Rothilde de Carvalho apropriou-se das joias, já mencionadas, que lhe foram confiadas e sobre as quaes tinha a guarda em razão das foncções de thesoureiro da Policia Civil, que exercia naquella época, e prevalecendo-se da negligencia do chefe de policia, que se esqueceu de tão preciosos e valiosos objectos, como fazem certo suas proprias declarações – “não tendo a menor lembrança de as ter entregue a qualquer outra repartição” – e , ainda, no proposito de fazer desapparecer a procedencia do ouro, fragmentou aquelles mesmos objectos, delles retirando os brilhantes.
     Esses pedaços de ouro provenientes das joias da Força Publica, foram entregues por Marcolino a Orlando de Mattos Guerra, seu amigo e com quem vinha fazendo transacções de dinheiro e de joias, pedindo a este que os fundisse em barras de ouro, e, depois, procurasse para ellas collocação.
     Orlando de Mattos Guerra contá, assim, a entrega daquellas reliquias:
     “que em 1930, em junho, mais ou menos, em dia que não pode procisar, encontrou-se na avenida 15 de Agosto, proximo da 28 de Setembro, com Marcolino Rothilde de Carvalho, amigo do declarante e com quem mantinha transacções de dinheiro e de joias, o qual falando ao declarante disse-lhe que tinha varias peças de ouro, dizendo que eram de sua propriedade e entregando um embrulho ao declarante, pediu-lhe que fundisse essas peças e, reduzidas a barras, procurasse collocação para ellas: que o declarante recebeu então das mãos de Marcolino um embrulho que foi aberto rapidamente por este e em seguida o declarante dirigiu-se para a officina de ourivesaria de Azevedo e Sousa, ahi mandou fundir as peças que recebeu de Marcolino, assistindo pessoalmente a fundição: que fundidas as peças, foram feitas tres ou quatro barras, as quaes o declarante, depois de mostrar a Marcolino, negociou-as por ordem do mesmo na casa de joias Krause & Cª, pela importancia de dois contos ou dois contos e cem mil réis, importancia que o declarante entregou a Marcolino...”
     Antes de serem essas barras de ouro vendidas á Krause & Cª. Foram offerecidas a C. Nunziata e AffonsoGaeta & Cª.
     Vicente Rodrigues, a quem tambem foi offerecido o ouro da Brigada, já fundido em barras, depondo disse:
     “...que em 1931, em junho, mais ou menos, foi procurado por Orlando de Mattos Guerra, pessôa de sua amizade e conhecimento, e por este lhe fôram offerecidas para comprar quinhentas e tantas grammas de ouro em barra, que nessa ocasião Mattos Guerra lhe contou, porque o declarante insistiu com elle em saber a procedencia desse ouro, que era proveniente da fundição de diversas peças, como sejam cartões, medalhas e corôas, objectos estes que Mattos Guerra havia recebido de Marcolino Rothilde de Carvalho, então thesoureiro da policia Civil, a fim de fundir, o que foi feito na officina de um rapaz que o declarante conhece pelo nome de Othilio Azevedo, officina essa situada na rua Paes de Carvalho, defronte da Palmeira...”
     Othilio Furtado de Azevedo, o ourives que fundiu as peças de ouro levadas á sua officina por Orlando de Mattos Guerra, em seu depoimento declarou:
     “...que em junho do anno de 1931 compareceu na mencionada officina o cidadão Orlando de Mattos Guerra, já do conhecimento do declarante e pediu a este para fundir varias peças de ouro que mostrou na occasião; que essas peças de ouro eram pedaços de objectos que haviam sido quebrados, mas que o declarante ainda poude distinguir varias medalhas e uma corôa trazendo ramos entrelaçados, alguns pedaços de chapas, podendo o declarante affirmar que essas peças traziam inscripções que o declarante não as leu em virtude de estarem as peças fragmentadas...”
     Como se vê, os indicios já são bem fortes, mais que vehementes, da responsabilidade criminal de Marcolino Rothilde de Carvalho, pelo extravio dos preciosos e ricos mimos da antiga Brigada Militar do Estado.
     Mas, a policia trabalha ainda para melhor apurar o facto criminoso imputado a Marcolino e outros co-auctores e co-responsaveis e pensa que a administração da justiça somente terá elementos formaes para manifestar-se quando estiverem completas as diligencias, já emprehendidas, para o descobrimento de todo o ouro e, principalmente, dos valorosos brilhantes.
     E só conseguirá exito nessas diligencias, na presente phase de instrucção do processo, com a prisão de Marcolino Rothilde de Carvalho, que se foragiu desde as primeiras noticias publicadas sobre “Os Trophéos da Brigada” na FOLHA DO NORTE, mas que ha de ser encontrado para responder pelo seu crime e apontar os seus cumplices.
     É de se notar, ainda, que Marcolino, durante o tempo que serviu as funcções de thesoureiro da Policia Civil, no curto periodo de 28 de outubro de 1930 a 5 de novembro de 1932, quando foi demittido a bem do serviço publico, lesou os cofres da mesma policia, desfalcando os seus haveres na importancia de Rs. 5:500$000, tendo elle effectuado o pagamento dessa quantia e retirou-se, immediatamente, para o Estado de Pernambuco, onde se estabeleceu, segundo estou informado.
     Conclue o dr. Salvador Borborema o seu longo officio dizendo estar convencido de que provou sufficientemente a criminalidade de Marcolino, tornando-se, desse modo, necessaria a sua prisão, pois só assim não se deixará “impune um dos mais revoltantes crimes que se hão praticado na administração publica”.
     Além de valor material, avaliado actualmente em centenas de contos de réis, como diz o relatorio do sr. 3º delegado, ha o valor estimativo das joias e trophéos que “os regeneradores do Pará” não souberam ou não quizeram aquilatar.
    E o ouro que continham os ricos trophéos, reduzido a barras, foi vendido a importante joalheria desta cidade pela irrisoria quantia de 2:000$000...
     E era desse modo que o governo do sr. Barata queria recommendar-se á gratidão dos paraenses.
     Que se prenda Marcolino Carvalho, mas que se não deixam impunes os verdadeiros responsaveis pelo desvio do patrimonio maior da antiga Brigada Militar, uma das glorias do nosso Estado. (escrita da época)

Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 01 de 21 MAR 1936 – Biblioteca Artur Vianna

domingo, 4 de março de 2018

Parte III

Os trophéos da Brigada Militar; Proseguem os inqueritos na Policia, que está em boa pista. (escrita da época)

     Continua correndo na 3ª delegacia-auxiliar, sobre a presidencia do dr. Salvador Borborema, o inquerito para apurar a responsabilidade do desapparecimento dos trophéos pertencentes á antiga Brigada Militar do Estado.
     Varios têm sido os depoimentos tomados e podemos asseverar que a policia está numa pista segura.
     Entre os provaveis auctores do desapparecimento dos trophéos, figura o ex-thesoureiro da policia Civil, de nome Marcolino Rottildes de Carvalho, presentemente em Fortaleza, exercendo as funcções de escripturario do Departamento de Agricultura daquelle Estado.
     Marcolino exerceu as funcções de thesoureiro da Policia na gestão do sr. Eduardo Chermont, sendo exonerado em 1932, já na administração do sr. Nogueira de Farias.
     Hontem, prestou depoimento um rapaz que exerce sua actividade em nosso commercio, na compra de ouro para certa casa de penhores, a quem Marcolino teria entregue, quando thesoureiro da policia, certa quantidade de ouro para vender.
     Em seu depoimento esse rapaz, conforme informações fidedignas colhidas pela nossa reportagem, declarou ter realmente, em fins de 1931, sido encarregado por Marcolino da venda de mais de 400 grammas de ouro, em peças quebradas, venda essa que effectuou á razão de 4 mil e poucos réis a gramma.
     Dessa transacção, tirou sua commissão habitual, não mais tendo tido negocios com Marcolino.
     Ao que sabemos, a nossa policia vae requisitar á do Ceará a vinda do ex-thesoureiro a esta capital, a fim de prestar esclarecimentos que julga necessarios para a completa elucidação do caso.
     O que parece certo é que o desaparecimento das reliquias de nossa Força Publica, ocorreu nas gestões dos srs. Eduardo Chermont ou Nogueira de Farias, na policia.
     Com relação á declaração feita, hontem, pelo “O Estado”, de que os botões da farda do ex-interventor são de metal mandado buscar na Intendencia de Guerra e não de ouro, será facil ao dr. Salvador Borborema passar uma vista nas collecções do “Diario do Estado”, de janeiro a 4 de abril de 1935. (escrita da época)

Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 01 de 29 FEV 1936 – Biblioteca Artur Vianna

sábado, 3 de março de 2018

Parte II
Os Trophéos da Antiga Brigada Militar do Estado
O Inquerito na Policia. (escrita da época)

       A reportagem que a FOLHA publicou na sua edição de ante-hontem sobre os ricos trophéos da extincta Brigada Militar, conquistados pelos seus feitos heroicos, e agora desapparecidos, tem tem sido objecto de commentario em todas as rodas.
       Hoje, em proseguimento do inquerito presidido pelo dr. Salvador Borborema, 3.º delegado auxiliar deverão ser ouvidos o major Aguiar e tenente Gonzaga da Igreja, ambos da Força Publica.
       Esses officiaes, ao que se diz,teriam visto o dr. Eduardo Chermont, ex-chefe de Policia, retirar do quadro onde se encontravam guardados, no commando geral da antiga Brigada, os preciosos objectos. (escrita da época)

Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 01 de 27 FEV 1936 – Biblioteca Artur Vianna

sexta-feira, 2 de março de 2018

Parte I
Onde estarão os trophéos da extincta Brigada Militar? (escrita da época)

   Depoimento interessante do ex-chefe de Policia dr. Eduarado Chermont, que confessou ter recebido os objectos sem saber a quem os entregou. – Os botões do fardão do Sr. Barata serão do ouro dos trophéos?
   Presidido pelo dr. Salvador Borborema, 3.º delegado auxiliar, proseguiu na Policia Civil o inquerito mandado instaurar para apurar responsabilidades no desapparecimento dos trophéos pertencentes á extincta Brigada Militar do Estado.
    Objectos de alto valor material e estimativos, era de suppor-se que os mesmos estivessem a salvo de qualquer acção criminosa, como o descaminho inexplicavel que tomaram.
     Logo após a Victoria da revolução, foram esses objectos retirados pelo sr Eduardo Chermont, da Chefia da Policia, da sala do commnando da Brigada, no edificio do Palacio do Governo, no local onde está instalada actualmente a Diretoria de Saude.
     Legalisando esse acto e a fim de resguardar a responsabilidade que no caso pudesse ter o então director da Saude, dr. Mario Chermont, o dr. Eduardo Chermont, na qualidade de Chefe de Policia, dirigiu-lhe um officio, communicando ter recebido os referidos objectos e que os enviara á Diretoria de Fazenda, de que era director o dr. Clementino Lisbôa, actual deputado federal.
   O inquerito, que prosegue na Policia, até agora nada esclarece, segundo estamos informados, pois, que o depoimento principal, que é o do dr. Eduardo Chermont, não traz nenhuma luz ao caso.
     Ao que sabemos, do depoimento do ex-chefe de Policia constam declarações dizendo não se recordar a quem fez entrega de tão valiosas reliquias conquistadas pela extinta Brigada Policial do nosso Estado.
  Além do dr. Eduardo Chermont já prestou seu depoimento á Policia o tenente-coronel Alberto Odorico de Mesquita, commandante do Regimento de Cavallaria.
   Conta que após a Victoria do movimento revolucionario foi preso, tendo assumido o commando o tenente Luiz Moura Carvalho, sendo certo que os trophéos lá ficaram.
   Amanhã deverão ser ouvidos o tenente Bartholomeu Gonzaga da Igreja e o major Aguiar, os quaes, segundo se diz, assistiram o dr. Eduardo Chermont retirar os objectos referidos do quadro em que se encontravam.
   Sabemos que os officiaes da Força Publica estão interessados na descorberta dos ricos trophéos, cuja avaliação approximada, pelo cambio actual, importa em cerca de 400 contos de réis, segundo ouvimos.
     Ha quem presuma que os botões de ouro da celebra farda de gala do sr. Barata tenham sido confeccionados com o ouro dos cartões que faziam parte dos objectos desviados e não com o ouro do Gurupy.
     Esse assumpto bem poderia ser esclarecido pelo ourives ou joalheiro que confeccionou.
     Entretanto, quem foi elle? Até agora não se sabe.
     Tambem desappareceram do commando os livros de carga da Brigada. (escrita da época)
Fonte: Jornal Folha do Norte, pag. 01 de 25 FEV 1936 – Biblioteca Artur Vianna

BG 185, DE 14 DE OUTUBRO DE 1964 - QUARTA-FEIRA

  Lei nr 3.076 de 7out64: Registro obrigatório dos valores e bens pertencentes ao patrimônio privado dos que exercem cargos ou funções efet...