Às vésperas das comemorações de mais um Dia Internacional do Trabalho, quem quer que queira se inteirar dos eventos que se sucederam após o 1º de maio de 1933, na Alemanha, verá o quão equivocado está o presidente e o quão perniciosa para a formação de nossa juventude, especialmente dos aspirantes ao oficialato, é a sua percepção daquela época. A destruição dos sindicatos na Alemanha foi planejada e empreendida por nazistas diretamente ligados a Hitler: Reinhold Mochow, Robert Ley e Joseph Goebbels.
No dia seguinte às comemorações do “Dia do Trabalho Nacional”, esquadrões da SA e da Organização Nacional-Socialista das Células de Fábrica ocuparam os sindicatos social-democratas, influenciados pelo Partido Socialista da Alemanha (SPD), espancaram e prenderam militantes e funcionários, confiscaram ativos e destruíram instalações. E os comunistas? As perseguições já haviam se iniciado alguns dias antes do incêndio do Reichstag, levado a efeito pelo jovem holandês Martinus van der Lubbe, em 27.2.1933. No dia 24, Hermann Göring determinara à polícia invadir a sede do PC, localizada na Karl Liebknecht Haus, em Berlim. Depois, os comunistas foram totalmente desbaratados, mesmo a polícia sabendo que Lubbe agira como “lobo solitário” e que havia rompido com o PC holandês em 1931.
Sou entusiasta da capacitação acadêmica de instituições militares de ensino, como o Instituto Militar de Engenharia (IME) e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), para não falar do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Politécnica da USP, mantido em convênio com a Marinha do Brasil. São organizações de excelência no ensino tecnológico. Mas, francamente, a formação do militar brasileiro na área de humanidades deixa a desejar. Dá o que pensar a afirmação da historiadora francesa Régine Robin, da Universidade do Quebec, estudiosa do nazismo, para quem “as autoridades brasileiras ou são ignorantes, ou imbecis, ou manipuladoras.”
O problema é que se cogita do aproveitamento em larga escala de militares da reserva para dar aulas de moral e cívica em escolas públicas ditas cívico-militares. Não sei se pode estar habilitado para dar aula dessa disciplina quem não possui uma bagagem acadêmica consistente no domínio dos eventos históricos. Ou que, ante o execrável massacre de um músico e um catador de papéis que sai em seu auxílio, só tem a dizer que tudo não passou de um “lamentável incidente”.
FONTE: O TEMPO. Disponível em https://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/sandra-starling/a-qualidade-do-ensino-de-hist%C3%B3ria-nas-academias-militares-1.2172076, acessado em 25/04/2019.
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