O
COMBATE DE 27 DE JULHO DE 1924*
A
revolução paulista de 1924 obrigou ao Governo Federal requisitar, nas
guarnições estaduais, vários batalhões de caçadores, a fim de engrossarem as
tropas legalistas, sediadas no Rio de Janeiro e que iriam combater os revoltosos.
No Estado
do Amazonas, o 27º B.C., sediado em Manaus e o 4º A.C., aquartelado em Óbidos, no
Pará, aderiram aos paulistas, o que provocou grande alteração nos ânimos do 26º
B.C. de Belém, propalando-se que o mesmo não embarcaria para o sul, porque não
desejavam combater contra seus próprios irmãos.
Confirmando
aqueles propósitos, às 21,30 horas de 26 de julho, revoltou-se a 2ª Companhia
do 26º B.C., que deveria seguir para Óbidos, no vapor “Rodrigues Alves” do Loyd
Brasileiro e, liderada pelo Capitão Augusto Assis de Vasconcellos, efetuou a
prisão de seu comandante, Tenente Josué Justiniano Freire e de outros oficiais,
que não aderiram ao movimento.
Ficara
fora do movimento a 3º Companhia, que, sob o comando do Tenente João da Costa
Palmeira, tinha se deslocado, anteriormente, para guarnecer o Forte do Castelo.
Mais
tarde, aderindo ao levante, revoltou-se, também, a Companhia de Administração,
que se achava no Quartel-General, cujo edifício foi abandonado, ficando,
apenas, alguns oficiais e praças. Nesta aflitiva situação, a pedido do Coronel
Barbosa, comandante da região militar, um contingente de 16 Bombeiros
deslocou-se de seu quartel, a fim de ocupar aquele prédio, sendo logo organizada
uma linha de defesa.
Cerca
de 14,30 horas do dia 27 de julho, dando execução ao plano de ataque, elaborado
pelo Comando Geral, o Batalhão de Infantaria da Polícia Militar, composto de 11
oficiais e 140 praças, armados de fuzil “Mauser” e reforçados por uma
metralhadora “Nordenfelt” de cal. 25 mm, comandados pelo Major Taciel Cylleno e
pelo Capitão Antônio José do Nascimento, acompanhados por 56 guardas civis,
deslocou-se até a Praça da República, a fim de atacar os revoltosos do 26º B.C.
Entremente
foi designado que um piquete de Cavalaria, constituído por 2 oficiais e 32
praças armadas de mosquetões “Mauser”, sob o comando do Tenente Henrique
Ferreira da Silva, fosse efetuar um reconhecimento pela avenida São Jerônymo, que,
presumivelmente, deveria estar ocupada pelos rebeldes. Efetivamente, uma tropa
do 26º B.C., constituída de 54 homens, dirigidos pelo Capitão Augusto Assis de
Vasconcellos, deslocando-se do seu quartel da Praça Justo Chermont,
dirigindo-se pela avenida Nazareth, tinha ocupado alguns pontos destas duas
artérias.
O Piquete
de Cavalaria, ao atingir a esquina da travessa Ruy Barbosa, foi tiroteado por
patrulhas adversárias, entrincheiradas nas mangueiras e noutros obstáculos,
existentes nas ruas. Atingido, justamente com sua montada, o Tenente Henrique
Ferreira da Silva caiu mortalmente ferido, tendo, em consequência, o piquete
recuado sob intenso e violento fogo dos rebeldes.
Outros
elementos do 26º B.C., chefiados pelo Capitão Augusto Assis de Vasconcellos,
então apeado de sua montada, que fora ferida no Largo da Memória, foi progredindo
gradativamente até a Praça da República, onde a força policial estava
concentrada e entrincheirada. Ao alcançar o cruzamento da Dr. Moraes, a tropa
rebelde era quase atingida por fios de alta tensão, que, ao romper-se,
provocaram sua momentânea desorganização. Prosseguindo em sua jornada, os
amotinados, depois de passarem em frente a Garage Central, atingiram a Praça da
República, onde foram recebidos por nutrido fogo de fuzis e rajadas de
metralhadora, provocando o desbaratamento dos mesmos.
Depois
de organizados, o Capitão Assis de Vasconcellos determinou uma carga de baioneta,
conseguindo desalojar os legalistas daquelas posições, os quais recuaram em
direção ao quartel do Batalhão de Infantaria, localizado na rua Gaspar Viana.
Atacam
os revoltosos e, depois de se apoderarem da sede do Tiro 14, situado na avenida
Ferreira Pena (hoje Assis de Vasconcellos), esquina da Ó de Almeida, prosseguiram
no seu avanço, quando foram surpreendidos por fortes descargas de fuzilaria dos
legalistas, que, reorganizados em nova linha de defesa, estavam entrincheirados
nos muros e telhados da Serraria Batista Lopes, à rua 28 de Setembro, sendo,
nesta ocasião, morto o Cabo Joaquim da Silva Pantoja e feridos o Capitão
Augusto Assis de Vasconcellos, que depois veio a falecer, o Tenente Edgar
Eremita da Silva e o Soldado Humberto Pacífico de Souza.
Com
seu comandante fora de combate, os amotinados ficaram desorientados e, cerca de
16,00 horas, desarticulando-se, divididos em grupos, tomaram várias direções,
tendo um deles seguido pela Aristides Lobo, a fim de tentar o assalto ao
Quartel-General, onde pretendiam municiar-se e fazer dali o centro de operações
para o ataque ao Palácio do Governo.
Travado cerrado combate contra os defensores do Q.G., constituídos pela Companhia de Administração, com efetivo de 5 oficiais e 60 praças (muitos dos quais já tinham anteriormente desertado), apoiada por quatro metralhadoras “Nordenfelt” e reforçada por 16 Bombeiros que armados de fuzis “Mauser” estavam organizados em linha de defesa na Praça Saldanha Marinho (atual Praça da Bandeira). Os rebeldes, depois de terem aprisionado, na rua de Bragança, duas patrulhas de reconhecimento dos legalistas, comandadas, respectivamente, pelos Sargentos Nehemias Borges e Lauro Vianna, e realizados três ataques àquele próprio federal, repelidos heroicamente, vendo infrutíferos os seus assédios, recuaram e fugiram em direção ao seu quartel (VER O CROQUIS).
Durante a noite, elementos do 26º B.C., postados na avenida Nazareth, abrigados pelas sarjetas, portas dos prédios, postes de iluminação e mangueiras, ainda combatiam com a tropa policial, até que foi gradativamente diminuindo de intensidade a luta, registrando-se, apenas, de vez em quando, trocas de tiros e ligeira fuzilaria.
* trecho extraído do livro "Retrospectivo Histórico da Polícia Militar do Estado do Pará 1822-1930" de autoria do membro do IHGP Orlando L. M. de Moraes Rego, publicado em Belém, em 1981. Páginas 154 a 158.
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