segunda-feira, 27 de julho de 2020

MOVIMENTO TENENTISTA NO PARÁ - PARTE 1

O COMBATE DE 27 DE JULHO DE 1924*


A revolução paulista de 1924 obrigou ao Governo Federal requisitar, nas guarnições estaduais, vários batalhões de caçadores, a fim de engrossarem as tropas legalistas, sediadas no Rio de Janeiro e que iriam combater os revoltosos.

No Estado do Amazonas, o 27º B.C., sediado em Manaus e o 4º A.C., aquartelado em Óbidos, no Pará, aderiram aos paulistas, o que provocou grande alteração nos ânimos do 26º B.C. de Belém, propalando-se que o mesmo não embarcaria para o sul, porque não desejavam combater contra seus próprios irmãos.

Confirmando aqueles propósitos, às 21,30 horas de 26 de julho, revoltou-se a 2ª Companhia do 26º B.C., que deveria seguir para Óbidos, no vapor “Rodrigues Alves” do Loyd Brasileiro e, liderada pelo Capitão Augusto Assis de Vasconcellos, efetuou a prisão de seu comandante, Tenente Josué Justiniano Freire e de outros oficiais, que não aderiram ao movimento.

Ficara fora do movimento a 3º Companhia, que, sob o comando do Tenente João da Costa Palmeira, tinha se deslocado, anteriormente, para guarnecer o Forte do Castelo.

Mais tarde, aderindo ao levante, revoltou-se, também, a Companhia de Administração, que se achava no Quartel-General, cujo edifício foi abandonado, ficando, apenas, alguns oficiais e praças. Nesta aflitiva situação, a pedido do Coronel Barbosa, comandante da região militar, um contingente de 16 Bombeiros deslocou-se de seu quartel, a fim de ocupar aquele prédio, sendo logo organizada uma linha de defesa.

Cerca de 14,30 horas do dia 27 de julho, dando execução ao plano de ataque, elaborado pelo Comando Geral, o Batalhão de Infantaria da Polícia Militar, composto de 11 oficiais e 140 praças, armados de fuzil “Mauser” e reforçados por uma metralhadora “Nordenfelt” de cal. 25 mm, comandados pelo Major Taciel Cylleno e pelo Capitão Antônio José do Nascimento, acompanhados por 56 guardas civis, deslocou-se até a Praça da República, a fim de atacar os revoltosos do 26º B.C.

Entremente foi designado que um piquete de Cavalaria, constituído por 2 oficiais e 32 praças armadas de mosquetões “Mauser”, sob o comando do Tenente Henrique Ferreira da Silva, fosse efetuar um reconhecimento pela avenida São Jerônymo, que, presumivelmente, deveria estar ocupada pelos rebeldes. Efetivamente, uma tropa do 26º B.C., constituída de 54 homens, dirigidos pelo Capitão Augusto Assis de Vasconcellos, deslocando-se do seu quartel da Praça Justo Chermont, dirigindo-se pela avenida Nazareth, tinha ocupado alguns pontos destas duas artérias.

O Piquete de Cavalaria, ao atingir a esquina da travessa Ruy Barbosa, foi tiroteado por patrulhas adversárias, entrincheiradas nas mangueiras e noutros obstáculos, existentes nas ruas. Atingido, justamente com sua montada, o Tenente Henrique Ferreira da Silva caiu mortalmente ferido, tendo, em consequência, o piquete recuado sob intenso e violento fogo dos rebeldes.

Outros elementos do 26º B.C., chefiados pelo Capitão Augusto Assis de Vasconcellos, então apeado de sua montada, que fora ferida no Largo da Memória, foi progredindo gradativamente até a Praça da República, onde a força policial estava concentrada e entrincheirada. Ao alcançar o cruzamento da Dr. Moraes, a tropa rebelde era quase atingida por fios de alta tensão, que, ao romper-se, provocaram sua momentânea desorganização. Prosseguindo em sua jornada, os amotinados, depois de passarem em frente a Garage Central, atingiram a Praça da República, onde foram recebidos por nutrido fogo de fuzis e rajadas de metralhadora, provocando o desbaratamento dos mesmos.

Depois de organizados, o Capitão Assis de Vasconcellos determinou uma carga de baioneta, conseguindo desalojar os legalistas daquelas posições, os quais recuaram em direção ao quartel do Batalhão de Infantaria, localizado na rua Gaspar Viana.

Atacam os revoltosos e, depois de se apoderarem da sede do Tiro 14, situado na avenida Ferreira Pena (hoje Assis de Vasconcellos), esquina da Ó de Almeida, prosseguiram no seu avanço, quando foram surpreendidos por fortes descargas de fuzilaria dos legalistas, que, reorganizados em nova linha de defesa, estavam entrincheirados nos muros e telhados da Serraria Batista Lopes, à rua 28 de Setembro, sendo, nesta ocasião, morto o Cabo Joaquim da Silva Pantoja e feridos o Capitão Augusto Assis de Vasconcellos, que depois veio a falecer, o Tenente Edgar Eremita da Silva e o Soldado Humberto Pacífico de Souza.

Com seu comandante fora de combate, os amotinados ficaram desorientados e, cerca de 16,00 horas, desarticulando-se, divididos em grupos, tomaram várias direções, tendo um deles seguido pela Aristides Lobo, a fim de tentar o assalto ao Quartel-General, onde pretendiam municiar-se e fazer dali o centro de operações para o ataque ao Palácio do Governo.

Travado cerrado combate contra os defensores do Q.G., constituídos pela Companhia de Administração, com efetivo de 5 oficiais e 60 praças (muitos dos quais já tinham anteriormente desertado), apoiada por quatro metralhadoras “Nordenfelt” e reforçada por 16 Bombeiros que armados de fuzis “Mauser” estavam organizados em linha de defesa na Praça Saldanha Marinho (atual Praça da Bandeira). Os rebeldes, depois de terem aprisionado, na rua de Bragança, duas patrulhas de reconhecimento dos legalistas, comandadas, respectivamente, pelos Sargentos Nehemias Borges e Lauro Vianna, e realizados três ataques àquele próprio federal, repelidos heroicamente, vendo infrutíferos os seus assédios, recuaram e fugiram em direção ao seu quartel (VER O CROQUIS).

Durante a noite, elementos do 26º B.C., postados na avenida Nazareth, abrigados pelas sarjetas, portas dos prédios, postes de iluminação e mangueiras, ainda combatiam com a tropa policial, até que foi gradativamente diminuindo de intensidade a luta, registrando-se, apenas, de vez em quando, trocas de tiros e ligeira fuzilaria.

* trecho extraído do livro "Retrospectivo Histórico da Polícia Militar do Estado do Pará 1822-1930" de autoria do membro do IHGP Orlando L. M. de Moraes Rego, publicado em Belém, em 1981. Páginas 154 a 158.


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