Quartel do Corpo de Cavalaria Estadual. Fonte: Álbum de Belém, 1902 |
Ao lado a imagem da frente do quartel com a tropa de cavalaria em dia de formatura. Abaixo, trazemos a descrição do quartel da Cavalaria da Polícia Militar, em 1902.
Quartel do Iº de cavalaria
Em epoca
não mui remota, marcada pelo decurso estreito de seis anos, quem passava por S.
João do Brum deparava, á curta distancia da estrada, um vasto casarão
campestre, ladeado de alpendres e ensombrado no seu rude pórtico por uma velha
mangueira, onde as aves gorgeiavam pelos mormaços do dia.
Uma
cerca rija de madeira delimitava o pátio da fazenda; e na porteira tosca, por
onde o gado recolhia ao cahir melancolico da tarde, uma mangueira e um angelim
farfalhavam, erguidos na planície como duas sentinelas que velassem dia e noite
pela paz e pelo socego d’aquella estancia feliz.
Era essa
a morada de um fazendeiro abastado, e isso ainda hoje se vê pelos campos
circunstantes que foram seus, pelo número de aposentos que o seu povo habitou e
pela vastidão relativa da capella, edificada no seio do seu lar, com a sua
fachada mais alta que os tectos da vivenda, e como que significando sobre as
cousas do mundo e proeminência consoladora da fé.
É nesse
outrora agitado e feliz tecto rural, que hoje se encontra o quartel de Iº
regimento de cavallaria.
Imagem da capa do Álbum de Belém, 1902 |
A cidade
com as suas exigencias estendeu-se até ali; e quando ao envez de castanheiros
sylvestres só casas se erguiam nas duas margens do caminho, os numerosos
vedetas da ordem publica, que já não cabiam no seu quartel insufficiente,
vieram-se alojar no casarão da fazenda, annullando para sempre o aspecto
bucolico dessa evocativa paragem.
Foi a
velha cerca de pau-a-pique quem primeiro sofreu a devastação do progresso. Hoje
um muro alvadio circunda todo o terreiro, outr’ora plantado de hortas e
vagueando rezes.
A capela
de nichos vasios está cheia de prateleiras, que suportam o peso dos
fardamentos, das espadas, dos mosquetões e de toda essa imensidade de cousas
que abastecerem a arrecadação de um quartel.
Os
salões fronteiros do flanco direito foram aproveitados como secretaria,
gabinete do commandante, sala de ordem e sala do Major fiscal do corpo.
Nos
alpendres interiores, que abrem para uma área quadrangular, installou-sse um
museu d’armas. Ao fundo do primeiro alpendre que limita os salões fronteiros,
num compartimento alegre que recebe a luz esbatida pelos beiraes, vieram
habitar os livros, unidos em biblioteca, num alinho erudito e grave que convida
a meditar e pensar. No salão central do flanco posterior fica o refeitorio das
praças. Nos compartimentos anexos os xadrezes para prisões disciplinares.
Num
curioso constraste, encontram-se ao fundo do quartel a machina para produção de
luz electrica e o hospital onde se recolhem os soldados, que as doenças e os
acidentes proprios da arma a que pertencem incapacitam para o serviço.
As
oficinas regimentaes agrupam-se perto, numa expansão effervecente de trabalho,
cujo rumos sacrílego quebra o silencio desolado do hospital, onde os doentes
são raros.
Da viva
alegria campestre que outrora reinava na pitoresca fazenda, já nada resta, alem
das tres arvores esgalhadas que se conservam fieis , cobrindo com os seus ramos
a terra úbere que as gerou. Apenas evoca-se a historia rural desse casarão
transformado em quartel, quando algum potro relincha na sua manjadoura estreita
e simetrica, alinhada com outras com muros lateraes do pateo fronteiro, onde se
estende o renque das baias sob um telheiro sombrio.
(Transcrição do Álbum de Belém, 15 de novembro de 1902, páginas 33-34).
Atualmente o Regimento de Polícia Montada "Cassulo de Mello" comemora o seu aniversário em 17 de fevereiro, pois em 1994, por Portaria do Comandante Geral, Cel PM Cleto José Bastos da Fonseca, foi criado o RPMont, mas há notícia de criação do Esquadrão de Cavalaria em 1817, a 12 de outubro e, também, em 1838, como já apresentamos em notícias anteriores feitas pelo nosso colaborador, Cel PM Lázaro Saraiva de Brito Júnior.
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