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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Tiradentes Esporte Clube: uma agremiação esportiva que nasceu na PMPA

Imagem 01: Carteira de Sócio Fundador da Associação Atlética Tiradentes
Ao iniciar minha carreira policial militar, nos anos de 1994, ainda cheguei a receber meus vencimentos no quartel. 

Como aluno soldado PM (Soldado Classe Simples, segundo o Estatuto dos Policiais Militares, ainda em vigor) recebia no CFAP e como Soldado de 3ª Categoria (Soldado já formado, com menos de 5 anos de serviço) recebia o contracheque e o salário no quartel da CIRP.

Pude presenciar, entre os policiais militares mais antigo certo desconforto com o número de descontos existentes e que ficavam na tesouraria de cada OPM que o repassava aos devidos credores.

Contra-cheque do SD PM WILSON
Nesta semana, ajudei minha mãe, Maria Hermínia Braga Charlet, na arrumação de seu "baú de curiosidades" e entre diversas fotografias de caráter pessoal e familiar pude me deparar com uma carteira do meu pai, então o Soldado PM Luiz Charlet de Queiroz, onde constava ser sócio fundador da Associação Atlética Tiradentes que veio a ser a entidade mantenedora do Tiradentes Esporte Clube, um dos times que na década de 1980 veio a disputar com grande êxito o campeonato paraense de futebol.

A carteira do meu genitor era a de número 723, datada de 30 de setembro de 1975, um ano depois do meu nascimento. Esse reencontro com o passado ajuda a remontar as relações existentes entre a Polícia Militar do Pará e o desenvolvimento do esporte em nosso Estado, temática perseguida pelo Capitão PM Itamar Rogério Pereira Gaudêncio, doutor em História Social pela Universidade Federal do Pará.

Imagem 03: verso do contra-cheque do SD PM WILSON
Assim, começamos a compreender que a Polícia Militar vai além do simples ato de serviço de cobrir as práticas esportivas em que tomam parte diversas agremiações esportivas como é o caso do Clube do Remo, do Paissandú Esporte Clube, Tuna Luso, Bragantino, entre outros. Mas, principalmente, a Polícia Militar tomou parte com o incentivo dado ao Tiradentes Esporte Clube.

A agremiação figurava entre os fornecedores que tinham descontos garantidos em folhas de pagamentos (contracheques) dos policiais militares, como podemos ver no caso da imagem ao lado.

Na frente, o contracheque trazia os dados impressos na Secretaria de Administração que constava das vantagens (ganhos legais) subtraídos dos descontos autorizados naquela esfera administrativa.

No quartel havia um carimbo com todos os demais fornecedores e credores dos policiais militares que o Tesoureiro do quartel tinha que recolher para o repasse aos mesmos.

No verso do contra-cheque do SD PM WILSON, em 1989 constava como possibilidades de descontos: Funsau; Ceso PM, CCSPM; ANASP; Capemi; Gboex; Sulamérica; Cia Bandeirantes; CSSPM; IBRAS, MSP do Brasil; AA Tiradentes (Associação Atlética Tiradentes); COPM; GP DO HP (ilegível); FEDERAL DOS SEGUROS; CÍRCULO MILITAR; ALUGUEL DE CASA; E.A. DOCG; DIVERSOS; MELICIANO; FARMÁCIA e TRANSP. 

Eram vinte e cinco itens para serem descontados ou não conforme fosse o caso de casa policial militar em particular. 

Como funcionavam essas tesourarias? Como se davam o controle desses recursos? Qual o grau de satisfação ou não dos policiais militares com esses descontos nos quartéis? Todos esses descontos eram de "bom grado" ou haveria algum tipo de pressão para que o policial militar fizesse uso de alguns serviços desses? Haveria algum tratamento diferenciado para aqueles que aderissem a esses ou aqueles serviços? Todas essas questões ainda aguardam por respostas e implicam numa série de outras questões que podem ser levantadas na vida e cotidiano dos quartéis nos anos de 1970 e 1980. Cabe portanto aos investigadores da história nos apresentar os elementos dessas relações, sem contudo, atuar de forma anacrônica, numa realidade em que havia sérias restrições ao crédito e o sistema policial militar tanto poderia oferecer uma alternativa viável em tempos de crise para fazer frente à demanda de consumo e serviços e garantir que os mesmos seriam ressarcidos por seus servidores (policiais militares), os quais, até hoje não podem e não devem assumir dívidas acima de suas capacidades financeiras.

RONALDO BRAGA CHARLET - Major PM
Chefe do Museu da Polícia Militar do Pará e Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará



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